Perspectiva Rebaixada: A Advertência da Fitch
Recentemente, a agência Fitch reavaliou a situação financeira da China, mudando sua perspectiva para a classificação de crédito do país de estável para negativa.
Esse ajuste crítico reflete a crescente preocupação com os desafios enfrentados pelas finanças públicas da nação, em meio a uma fase de transição para novos paradigmas de crescimento econômico.
Essa mudança segue uma ação similar da Moody’s em dezembro, em um contexto onde o governo chinês busca revitalizar a economia pós-pandemia com estímulos fiscais e monetários significativos.
Riscos Fiscais em Ascensão
A modificação da perspectiva por parte da Fitch é atribuída aos crescentes desafios nas finanças públicas, exacerbados pela desaceleração econômica e o incremento da dívida, conforme apontado por Gary Ng da Natixis Ásia-Pacífico.
Embora não se antecipe um default iminente da China, a saúde fiscal variável entre os governos locais sugere riscos de crédito eminente, especialmente entre certos veículos de financiamento do governo local (LGFV).
Escalada da Dívida e Impacto Imobiliário
A Fitch projeta que a dívida do governo chinês, tanto central quanto local, alcançará 61,3% do PIB até 2024, o que representa uma piora significativa em relação a 38,5% em 2019.
Parte deste aumento na dívida é impulsionado pela persistente crise imobiliária, que afeta as receitas dos governos locais, tradicionalmente dependentes do desenvolvimento de terras. Adicionalmente, prevê-se um crescimento do déficit do governo geral para 7,1% do PIB em 2024, o mais alto desde 2020.
Apesar da revisão para uma perspectiva negativa, a Fitch optou por manter a classificação de crédito da China em ‘A+’, indicando a possibilidade de um rebaixamento futuro.
Esta avaliação está alinhada com a classificação da S&P e ligeiramente acima da classificação A1 da Moody’s para a China, evidenciando um consenso cauteloso entre as agências de classificação.
Projeções de Crescimento e Recuperação Econômica
A expectativa da Fitch é que o crescimento econômico da China desacelere para 4,5% em 2024, abaixo dos 5,2% anteriores.
Contudo, indicadores recentes, como a produção industrial e vendas no varejo, sugerem uma possível estabilização econômica, reforçando as esperanças de atingir uma meta de crescimento de cerca de 5% em 2024. Esta revisão reflete preocupações com o futuro das finanças públicas em um ambiente de incertezas econômicas.
Resposta e Estratégias do Governo
Em resposta às preocupações destacadas pela Fitch, a China planeja um déficit orçamentário de 3% do PIB e a emissão de 1 trilhão de yuans em obrigações especiais do tesouro de longo prazo.
Essas medidas indicam um esforço para distribuir a responsabilidade pelo crescimento econômico entre o governo central e local, enfrentando desafios como receitas fiscais mais lentas e vendas de terras deprimidas.
A emissão planejada de obrigações do tesouro sinaliza um reconhecimento da necessidade de assumir um papel mais ativo no cumprimento das metas de crescimento.
O Ministério das Finanças da China expressou sua insatisfação com a reavaliação da Fitch, comprometendo-se a implementar medidas eficazes para mitigar e controlar os riscos associados à dívida dos governos locais. Essa resposta sublinha a determinação do governo em fortalecer a governança fiscal e manter a estabilidade econômica.
A China reconhece a importância de um equilíbrio delicado entre estimular a demanda interna e apoiar o crescimento sustentável, sem comprometer a integridade de seu crédito soberano.
Neste contexto complexo, a China se esforça para equilibrar as exigências de desenvolvimento econômico com as responsabilidades fiscais, visando uma trajetória de crescimento sustentável e estabilidade financeira a longo prazo.
A abordagem proativa e as medidas estratégicas adotadas pelo governo chinês refletem sua resiliência e adaptabilidade frente aos desafios econômicos globais e domésticos.