sexta-feira, maio 17, 2024
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Família de Henrietta Lacks inicia novo processo por células colhidas sem consentimento

Cerca de nove dias após os descendentes de Henrietta Lacks resolverem um litígio contra uma empresa de biotecnologia acusada de obter lucros injustos através das células de Henrietta por várias gerações, os advogados da família entraram com uma nova ação contra outra corporação.

O recente processo tem como alvo a empresa de biotecnologia Ultragenyx, sediada na Califórnia. O processo foi protocolado na quinta-feira no tribunal federal de Baltimore, o mesmo local onde o caso anterior foi resolvido. Os advogados da família têm a intenção de abrir uma série de processos contra várias entidades que continuaram a se beneficiar do sistema médico com raízes racistas que explorou as células de Henrietta Lacks.

Henrietta Lacks, uma mãe afro-americana de cinco filhos do sul da Virgínia, estava vivendo fora de Baltimore quando foi diagnosticada com câncer cervical em 1951. Os médicos do Hospital Johns Hopkins retiraram uma amostra das suas células cancerosas durante uma biópsia, sem informar a ela ou obter o seu consentimento. Ela faleceu aos 31 anos no hospital, mas suas células continuaram a se reproduzir em laboratório, tornando-se a primeira linhagem celular humana a ser cultivada e estudada continuamente. Essas células, conhecidas como células HeLa, desempenharam um papel crucial em muitos avanços científicos e médicos, incluindo a criação da vacina contra a poliomielite, pesquisas genéticas e até mesmo as vacinas contra a COVID-19.

Os advogados da família afirmam que a Ultragenyx lucrou consideravelmente ao usar as células HeLa para desenvolver produtos de terapia genética. Eles ressaltam que a história da pesquisa médica está manchada por questões raciais e que a exploração das células de Henrietta Lacks reflete uma triste realidade de exploração vivida por muitos afro-americanos ao longo da história dos Estados Unidos. A família argumenta que essa exploração resultou em avanços e lucros médicos significativos, mas sem a devida compensação ou reconhecimento.

Até o momento, a Ultragenyx não respondeu a um pedido de comentário sobre o processo.

Enquanto na época da coleta das células de Henrietta Lacks não era ilegal fazê-lo sem permissão, os advogados agora acusam a Ultragenyx de continuar a se beneficiar dessas células mesmo após a origem das células HeLa ter sido amplamente divulgada. Isso é considerado um “enriquecimento sem causa” e se assemelha ao caso anterior envolvendo a Thermo Fisher Scientific Inc., que foi aberto em 2021 e recentemente encerrado em acordo, cujos detalhes não foram divulgados.

Após horas de negociações em particular, a família chegou a um acordo no caso anterior, que foi visto como uma conquista de justiça pelos descendentes de Henrietta Lacks. O impacto das células HeLa na medicina moderna tem sido imenso, permitindo que estudos sejam reproduzidos em laboratórios graças à natureza única das células, que continuam a prosperar em condições controladas.

Essa história foi amplamente documentada no livro “The Immortal Life of Henrietta Lacks”, escrito por Rebecca Skloot e publicado em 2010. A história também foi adaptada para um filme da HBO, onde Oprah Winfrey interpretou a filha de Henrietta.

Apesar de a Universidade Johns Hopkins ter afirmado que nunca vendeu ou lucrou com as linhas celulares HeLa, várias empresas patentearam formas de utilizá-las para desenvolver produtos.

A ação legal recente contra a Ultragenyx alega que a empresa falhou em obter permissão dos descendentes de Henrietta Lacks, mesmo depois de estar ciente da origem das células HeLa. Os advogados argumentam que a escolha da Ultragenyx de continuar a usar essas células, apesar do conhecimento da origem e do impacto negativo causado à família Lacks, reflete uma aceitação do legado de injustiça racial enraizada nos sistemas médicos e de pesquisa dos EUA. O advogado Ben Crump, conhecido por seu trabalho em casos de direitos civis e justiça racial, destacou que assim como qualquer outra pessoa, os afro-americanos também têm o direito de controlar seus próprios corpos.

Crump, cuja atuação ganhou destaque após representar vítimas de violência policial, expressou que a família planeja entrar com mais ações judiciais após o acordo recente.

Este caso suscita questões importantes sobre consentimento, ética e justiça em relação à pesquisa médica e à exploração de materiais biológicos.

Agnaldo

Após décadas no mundo do Business, fornecer informação se tornou meu Hobby preferido, pois tenho aprendido a conviver melhor com as diferenças"

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